Este ano estamos celebrando um aniversário. E é um aniversário muito especial: 400 anos da canonização de nossa Santa Madre Teresa. Todo o Carmelo Teresiano se une à celebração daquele 12 de março de 1622, e o fazemos celebrando com toda a Igreja o dom da santidade de Teresa e dos Beatos que foram canonizados com ela. (…) A partir daquele 4 de outubro de 1582, quando a Madre Teresa fechava os olhos a este mundo em Alba de Tormes, sua fama de santidade não deixou de crescer. Suas obras, publicadas pela primeira vez em 1588, foram sendo divulgadas e traduzidas em diversas línguas. Nove anos depois de sua morte, em outubro de 1591, a diocese de Salamanca abriu processos informativos sobre sua vida, virtudes e milagres. Em 1595, o Núncio de Sua Santidade, por desejo do rei Felipe II, retomaria os processos com novas declarações de testemunhas em muitos outros lugares. Convertia-se em clamor o desejo de ver Teresa de Jesus nos altares. Assim, pois, tomou velozmente conta do coração de muitos cristãos contagiados pelas maravilhas de Deus nela. Diante da chuva de petições levadas à Santa Sé por parte de inúmeras personalidades e instituições, a Congregação dos Ritos levaria a cabo os trâmites necessários que culminariam, em 1614, com a beatificação da Madre Teresa por Paulo V. Quase oito anos mais tarde, em 12 de março de 1622 – completam-se agora quatrocentos anos –, Gregório XV a canonizou, mediante a bula Omnipotens sermo Dei. A solene cerimônia de canonização foi compartilhada com Isidoro de Madri, Inácio de Loyola, Francisco Xavier e Felipe Néri. Depois de quatro séculos, continua a chegar até nós o testemunho incontaminado, como fogo entre as cinzas da história, de uma mulher tocada por Deus em suas entranhas. Sua palavra, fresca como no primeiro dia, continua gritando a nós, transbordante de alegria: “Vede o que fez comigo” (V 19, 15). E, como ensina o Papa Francisco: “À medida que se santifica, cada cristão se torna mais fecundo para o mundo” (GE, 33). Todos os aniversários recordam um fato vivo, uma fonte que continua a jorrar; são celebração e dança perene no coração de Deus. A memória passada se faz hoje surpreendente e eficaz. Assim é Teresa de Jesus, experiência viva de Deus a percorrer nossas vidas, ativando em nós a fé em uma Presença ardente. Há nela algo que sempre é provocador, sugestivo, que inspira e questiona ao mesmo tempo: sua simpatia, senso de humor, atrevimento, inteligência, profundidade de espírito, incrível capacidade para traduzir em palavras como se vê a Deus com os olhos da alma desnuda, expressas com a transparência e simplicidade de quem, sem impor resistências, se deixa invadir e atravessar pela Palavra amorosa de Deus, aceitando o desafio. (…) A santidade de nossa Madre Teresa nos orienta no caminho sinodal que a Igreja nos propõe neste tempo, fazendo andar juntas Marta e Maria. Deixa em nós rastros luminosos de fraternidade e valentia e uma direção certa, que “desejemos e nos ocupemos da oração” (VII Moradas 4, 12), que andemos no caminho que Jesus percorreu: “Olhos fixos n’Ele e não haja medo de que se ponha este Sol da Justiça, nem que nos deixe caminhar de noite para nos perdermos, se nós primeiro não O deixamos a Ele” (V 35, 14). (…) Palavras de Frei Miguel Márquez Calle, OCD, Superior Geral dos Carmelitas Descalços