«Falava do templo do seu Corpo»
Jesus «falava do templo do seu Corpo» e a Igreja celebra neste domingo a Dedicação da Basílica de Latrão, templo da Igreja, Corpo de Cristo. «A festa que nos congrega é a dedicação de uma casa de oração. Esta é, de facto, a casa das nossas orações; mas nós próprios somos casa de Deus. Somos construídos como casa de Deus neste mundo e seremos dedicados solenemente no fim dos tempos» (S. Agostinho). «Pela graça de Cristo, irmãos caríssimos, celebramos hoje com alegria e júbilo o dia aniversário da consagração deste templo. Mas nós é que devemos ser o templo vivo e verdadeiro de Deus» (S. Cesáreo de Arles)
OAnjo reconduziu Ezequiel à entrada do Templo de Jerusalém e o profeta dá testemunho da salvação de Deus: «Vi a água sair do templo e todos aqueles a quem chegou esta água foram salvos». «Os braços de um rio alegram a cidade de Deus, a morada santa do Altíssimo» (Sl 45). «O Senhor ama a cidade por Ele fundada» (Sl 86, 1). Jerusalém é a cidade de Deus. Deus «está no meio dela e a protege desde o romper da aurora». «Eu vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, resplandecente da glória de Deus, como noiva adornada para o seu esposo» (Ap 21, 2. 10).
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém e entrou no templo: «virá ao seu templo o Senhor» (Mal 3, 1). Encontrou no templo os vendedores de bois. Expulsou-os a todos do templo. Tirai isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio. Estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?… «Destrui este templo e em três dias o levantarei». É o anúncio da morte e da ressurreição do seu corpo, do qual «saiu sangue e água». «Foram precisos 46 anos para construir este templo» (19 a. C. a 28 d. C) e tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que Ele tinha dito e acreditaram na Escritura («Devora-me o zelo pela tua casa») e nas palavras que Jesus dissera («Destrui este templo e em três dias o levantarei»).
Porém, «a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular» (Sl 117,22). No dizer de Jesus, o «templo destruído» pelos construtores foi o «templo do seu corpo»: «A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular» (Mt 21, 42). O mesmo diz a Igreja: «Cristo é a pedra rejeitada pelos construtores, que veio a tornar-se pedra angular» da Igreja (Act 4, 11). «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela» (Mt 16, 18). «Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá». «Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia» (Act 10, 39-40). O «templo levantado» é o «corpo ressuscitado» do Senhor. «Veja cada um como constrói; ninguém pode colocar outro alicerce além do que está posto, que é Jesus Cristo». Nós somos as pedras vivas do templo do Senhor: «Vós sois o edifício de Deus. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? O templo de Deus é santo e vós sois esse templo». «Deus não habita só em templos edificados pelos homens, nem em casas construídas de madeira ou de pedra, mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e por sua própria mão». «Vós, como pedras vivas, entrai na construção deste templo espiritual, para constituirdes um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo» (1 Pe 2, 5). «Em união com Ele, também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito Santo, habitação de Deus» (Ef 2, 22). «A Igreja, comunidade de oração, constrói um só altar, sobre o qual Jesus oferece um sacrifício ao Pai. É a unidade na caridade que faz de nós pedras aptas para o altar do Senhor».
«Não façais da casa de meu Pai casa de comércio», porque ela é «casa de oração»: «Hei de conduzi-los ao meu santo monte, hei de enchê-los de alegria na minha casa de oração: Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceites no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de oração para todos os povos» (Is 56, 7). O corpo de Jesus é o novo templo, melhor, o novo santuário, a nova casa de oração, a casa do Pai: «O edifício, ou melhor, a construção, faz-se com trabalho, a dedicação realiza-se com alegria. Esta casa está ainda a ser edificada em todo o mundo. Construímos a casa do Senhor, quando nos unimos pela caridade. O que aqui vemos feito materialmente nas paredes, faça-se espiritualmente nas almas» (S. Agostinho). «Sempre que vimos à igreja, devemos preparar bem a nossa alma, tal como gostamos de ver adornado o templo de Deus. Queres encontrar a basílica limpa? Então não queiras sujar a tua alma com a imundície do pecado. Assim como tu entras nesta igreja, também Deus quer entrar na tua alma, como prometeu: Estabelecerei a minha morada no meio deles e viverei com eles» (São Cesário de Arles).
«“Tenho de ficar em tua casa!” É o meu Mestre quem me manifesta esse desejo! O Meu Mestre que quer habitar em mim, com o Pai e o seu Espírito de amor, para que, segundo a expressão do discípulo muito amado, tenha com Eles “comunhão”. “Já não sois hóspedes ou estrangeiros, mas antes da casa de Deus”, diz São Paulo. Eis como entendo ser “da casa de Deus”: é viver no seio da tranquila Trindade, no meu abismo interior, nessa “fortaleza inexpugnável do santo recolhimento” de que fala São João da Cruz!» (S. Isabel da Trindade, Último Retiro, n. 43).
«Demos graças a Deus por nos ter dado a graça de construir esta casa visível, onde incessantemente nos concede os seus favores; onde nos dá o sinal admirável da sua comunhão connosco e nos faz participar no mistério da sua aliança; onde edifica o seu templo, que somos nós; onde faz crescer a Igreja na unidade do Corpo do Senhor, até se tornar perfeita na visão de paz da celeste cidade de Jerusalém» (Prefácio).
Padre Manuel Reis

