Domingo no Carmelo

Domingo I do Advento

«Vigiai, para que estejais preparados»

Jesus, o Senhor, manda-nos, neste tempo de Advento, «vigiar para estarmos preparados». Em primeiro lugar, consideramos o mandamento da vigilância e da esperança.

«O Tempo do Advento tem dupla característica: é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus aos homens; simultaneamente é tempo em que, comemorando esta primeira vinda, o nosso espírito se dirige para a expetativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por estes dois motivos, o Advento apresenta-se-nos como um tempo de piedosa e alegre expectativa».

No Credo proclamamos que «Aquele que subiu aos Céus e está sentado à direita do Pai, há -de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos». Advento era a última vinda do Senhor no final dos tempos. Mas, ao aparecerem as festas do Natal e da Epifania, passou a significar também a vinda de Jesus na humildade da carne. Por isso, «adventus» significou primeiramente o nascimento, depois a preparação do Natal e, por último, a espera do Senhor.

«A palavra advento não significa espera, como é tão comum ouvirmos, mas é a tradução da palavra grega parusia, que quer dizer presença começada do próprio Deus» (Papa Bento XVI).

O Advento é o «sim» à esperança, o atrever-se a esperar «Aquele que é, que era e que há de vir» (Ap 4, 8). «O Advento prepara-nos para ir ao encontro d’Aquele que era, que é e que nunca cessa de vir» (J. Paulo II). A esperança é, pois, a virtude do Advento. Como tal, «caminhamos juntos em esperança», que «tanto alcança – do Senhor – quanto espera» (São João da Cruz).

Em segundo lugar, o mandamento da preparação para «o dia em que virá o nosso Senhor». «Estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem». É necessário estarmos preparados para o «adventus Domini», a vinda e presença do Senhor. Todo o mistério da esperança cristã se resume no Advento de «Cristo Jesus, nossa esperança» (1 Tm 1, 1). Soou o despertador do profeta: «Vinde, subamos ao monte do Senhor… Vinde, caminhemos à luz do Senhor» (Is 2, 5). Soa o despertador do apóstolo: «Chegou a hora de nos levantarmos do sono… Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz». É, pois, a hora de acordar para a vinda do Senhor e esperá-lo ativamente na fé e no amor, porque o Senhor veio e vem no meio da normalidade da vida diária: «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem».

«Anunciamos o Advento de Cristo. Não, porém, um só, mas também o segundo, muito mais glorioso que o primeiro (…) Não nos detemos a meditar só no primeiro advento, mas vivemos na esperança do segundo» (…) Virá, portanto, do alto dos Céus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Virá no fim deste mundo, em sua glória, no último dia. Será então o fim do mundo criado e o início de um mundo novo» (S. Cirilo de Jerusalém).

As primeiras semanas do Advento sublinham o aspeto escatológico do tempo de espera, abrindo-o à Parusia: «aguardando a bem-aventurada esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo» (Tt 2, 13). A última semana, a partir de 17 de dezembro, a liturgia centra-se no acontecimento histórico do nascimento do Senhor, atualizado sacramentalmente na festa do Natal.

«Jesus Cristo é o mesmo onte, hoje e sempre (Hb 13, 8).«Bernardo de Claraval falou de um Adventus medius, de uma vinda intermédia, através da qual Ele sempre entre periodicamente na história» (Bento XVI). É a «tríplice vinda do Senhor» que nasceu na Carne, vem na Graça, e há de vir na Glória. A graça do Advento e do Natal é o amor do Senhor celebrado e comungado na Eucaristia. Então, o Advento é já a Presença – «já podemos amar a Deus no nosso coração», lembra-nos São João da Cruz, o místico poeta de alma enamorada – e ainda a esperança de um encontro definitivo com Deus, impulsionado pela primeira vinda de Cristo e animado pela Eucaristia, a «ceia que nos recreia e enamora» do Senhor.

«Na tua vinda atual queres corrigir a nossa soberba tornando-nos conformes à humildade que manifestastes na Tua primeira vinda; então poderás transformar o nosso humilde corpo fazendo-o semelhante ao Teu glorioso que surgirá no momento da Tua vinda final. Por isso Te pedimos, com a mais fervorosa oração e com todo o nosso empenho: dispõe-nos a receber esta visita pessoal que nos dá a graça do primeiro advento e nos promete a glória do último. Porque Tu, ó Deus, amas a misericórdia e a verdade e nos darás a graça e a glória: na Tua misericórdia nos concedes a graça e, na Tua verdade, nos darás a glória» (Guerrico de Igny).

«Oxalá façais objeto das vossas contínuas meditações estas duas vindas, ruminando nos vossos corações quanto nos deu na primeira e quanto nos prometeu na segunda!» (S. Bernardo).

«Ó Jesus, Vós sois O que devia vir. Ó Jesus, Vós já viestes. Ó Jesus, Vós deveis vir ainda no último dia para acolher os vossos eleitos no descanso eterno. Ó Jesus, Tu vais e vens continuamente. Vens aos nossos corações e fazes sentir a Tua presença cheia de doçura, de suavidade e de poder. “O Espírito e a esposa dizem: Vem! E o que tenha sede, venha! Porque Tu, ó Jesus, vens a nós quando nós também vamos a Ti. “Sim”, dizes, Eu venho depressa”. “Vem, Senhor Jesus”. Vem, Tu que és o desejado dos povos, nosso amor e nossa esperança, nossa fortaleza e nosso refúgio, nosso amparo na viagem, nossa glória e nosso descanso eterno na pátria» (J. B. Bossuet).

Padre Manuel Reis

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