Domingo no Carmelo

Domingo V da Quaresma

«Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra»

«Esta é a voz da justiça: castigue-se a pecadora, mas não sejam os pecadores a castigá-la… Eles, atingidos por estas palavras como por uma flecha grande como uma trave, “afastaram-se um a um”. Ficaram apenas os dois: a miséria e a misericórdia… “Também Eu não te condeno”. Que quer dizer isto, Senhor? Não estarás a favorecer o pecado? De modo nenhum. Ouvi o que segue: “Vai e doravante não tornes a pecar”. Por outras palavras, o Senhor condena o pecado, não a pessoa» (S. Agostinho).

Apresentaram-lhe a mulher surpreendida em flagrante adultério. Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão, fingindo alheamento e distância. Insistência deles, insistência dele: Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Leva tempo a fazer o exame de consciência para rever e mudar a vida. A Palavra, dita e escrita, de Jesus foi «viva e eficaz: foi mais cortante do que uma espada de dois gumes; penetrou até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e das medulas, e foi capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração». Eles quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos.

Esta é a voz da justiça ensinada por Jesus, o Mestre, sentado no Templo, a todo o povo. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Esta é a voz da misericórdia de Jesus para com a mulher e toda a humanidade pecadora. Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar». «Ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio». «Ficaram apenas os dois: a miséria e a misericórdia». «Ama a tua miséria, porque é sobre ela que Deus exerce a sua misericórdia… É aí, no mais profundo, que se operará o choque divino, que o abismo do nosso nada, da nossa miséria, se encontrará frente a frente com o Abismo da misericórdia, da imensidade do tudo de Deus. É aí, que havemos de encontrar a força para morrermos a nós mesmos e que, ao perder o nosso próprio rasto, seremos transformados em amor» (S. Isabel da Trindade).

«Confie na bondade de Deus, que é maior de que todos os males que podemos fazer e não se lembra da nossa ingratidão, quando, reconhecendo o que somos, queremos voltar à Sua amizade. Nem se recorda das mercês que nos tem feito para por elas nos castigar; antes ajudam a perdoar-nos mais depressa, como a gente que já era de Sua casa e tem comido – como dizem – o seu pão. Lembrem-se das Suas palavras e vejam o que fez comigo: mais me cansei eu de O ofender, que Sua Majestade de me perdoar. Nunca Ele se cansa de dar nem se podem esgotar Suas misericórdias; não nos cansemos nós de receber. Seja bendito para sempre, amen, e louvem-n’O todas as criaturas» (S. Teresa de Jesus).

Padre Manuel Reis, OCD

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