Domingo no Carmelo

Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

«Eu sou a ressurreição e a vida»

Celebrada a Solenidade de Todos os Santos, na qual beneficiamos da intercessão junto de Deus dos «ilustres filhos da Igreja», eis que, neste Domingo, nos reunimos na Eucaristia, para a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na qual, recordarmos «os fiéis defuntos… aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem agora o sono da paz». Fazemo-lo não em atitude de morte, mas de vida, porque «o Crucificado, não está aqui, ressuscitou» e «o que crê em Mim, ainda que morra, viverá». «Pois se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também acreditamos que Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem adormecido». «Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor e, se morremos, morremos para o Senhor. Portanto, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Com efeito, foi para isto que Cristo morreu e ressuscitou: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos».

A Ressurreição de Jesus de entre os mortos é a razão da nossa esperança de ressurreição e o fundamento da nossa oração, sobretudo eucarística, pela vida e bem-aventurança eterna de todos os fiéis defuntos que, como reza a Igreja, «dormem agora o sono da paz»: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia». A oração dos «fiéis de Cristo», na terra, pelos «fiéis defuntos», no Céu, exprime o mistério da Igreja como «comunhão dos santos». Na Eucaristia, «anunciamos a morte de Cristo, proclamamos a Sua ressurreição e esperamos a vinda do Senhor Jesus». Na morte de Jesus, recordamos a morte dos nossos irmãos na fé, na ressurreição de Cristo, oramos pelas almas do Purgatório – «é santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos para serem libertos dos seus pecados» ou «para que obtenham a remissão das penas devidas aos seus pecados» – e consolidamos a nossa fé na Presença do Senhor no meio de nós como «Palavra-Pão da vida eterna». «Tal como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão restituídos à vida». Os nossos irmãos na fé, «por serem filhos da ressurreição, são filhos de Deus», pois, «Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para Ele». «Tudo acaba, todos neste mundo estamos de passagem. Só Deus tem a vida em si mesmo. Ele é a vida».

Recordar os nossos irmãos na fé é dar-lhes vida no nosso coração. E, assim, vivos, chamam-nos para a verdadeira vida neste mundo.  Também a nossa vida de peregrinos de esperança está inscrita no «Livro da Vida» – «Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar» –, porque Deus nos amou: «Vede que admirável amor o Pai nos concedeu, a ponto de sermos chamados filhos de Deus. E somo-lo, de facto. Amados meus, agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos, no entanto, que, quando se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é». «Na casa do Pai, há muitas moradas». «Para onde Eu vou, sabeis o caminho». Caminhamos na fé com Cristo-Caminho, no amor com Cristo-Verdade, na esperança com Cristo-Vida, pois «já não somos nós que vivemos, é Cristo que vive em nós». «A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim. Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal».

Alguém que «viveu de Amor» e «morreu de Amor» – «Jesus viveu e morreu a mais bela vida e morte de amor» – profetizou «Eu não morro, entro na vida». Nós, para quem «viver é Cristo e morrer é lucro», «vemos que a morte pode ser lucro e a vida castigo», pois «Cristo é morte do corpo e espírito de vida». «A morte de Cristo é vida de todos». O «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, por vontade do Pai e com o poder do Espírito Santo deu a vida ao mundo pela sua morte». «Se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa da imortalidade», pois, «para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no Céu uma habitação eterna».

Com a Igreja rezamos «acolhei com bondade os fiéis defuntos, de modo que, tendo eles acreditado no mistério da ressurreição, mereçam alcançar as alegrias da bem-aventurança eterna». «Lembrai-vos também dos nossos irmãos que adormeceram na esperança da ressurreição, e de todos aqueles que na vossa misericórdia partiram deste mundo, admiti-os na luz da vossa presença». A visão da glória de Deus é a felicidade da nossa vida, quer na terra, quer no Céu: «E ouvi uma voz vinda do céu, que dizia: “Escreve: felizes os mortos, aqueles que, a partir de agora, morrem no Senhor. Sim – diz o Espírito – porque descansarão das suas fadigas, e as suas obras os acompanham». «Vinde a mim, todos os que andais fatigados e oprimidos, e eu vos darei descanso. Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas». Na sua oração, a Igreja pede a Deus o descanso eterno para todos os fiéis defuntos e a paz para os que os choram com saudade».

«Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, nos esplendores da luz perpétua». Ámen.

Padre Manuel Reis

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *