«Se não vos arrependerdes, morrereis do mesmo modo»
Jesus, a partir de acontecimentos conhecidos por todos, um acontecimento humano causado pela mão de um homem – na repressão de uma revolta Pilatos mandou matar certos galileus – e um acontecimento natural – os dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou –, ensina-nos a «ler os acontecimentos», – os «sinais dos tempos» –, convida-nos ao arrependimento e à conversão aos caminhos de Deus – e não a averiguar a culpabilidade humana de quem manda matar e de quem é morto –, para que não volte a acontecer a acção violenta de Pilatos pelas mãos dos Pilatos de hoje, nem o acidente imprevisível da queda da torre e não nos aconteçam piores coisas a nós. Foram incidentes e acidentes e não castigos de Deus.
Deus fala-nos, ensina-nos, chama-nos à conversão por meio dos acontecimentos. As desgraças devem levar-nos à mudança de vida. Todos corremos o risco da morte… Para não corrermos o risco da morte, temos de nos converter radicalmente: se não mudarmos a nossa maneira de pensar e agir, morreremos todos, destruindo-nos uns aos outros. Se não acreditamos numa humanidade melhor, na justiça e na paz, então, morreremos… Precisamos de «subir de nível» no nosso pensar e agir. Somos co-responsáveis do que pode acontecer na nossa história. Identificamo-nos com o crucificado se nos identificarmos com as vítimas das catástrofes naturais ou das intervenções históricas. «Não há arrependimento para os anjos depois da queda, tal como não há arrependimento para os homens depois da morte» (CIC 393). Repensemos a nossa vida e acolhamos o dom e a responsabilidade da conversão como transformação da nossa vida em favor dos mais frágeis.
Jesus dizia aos seus contemporâneos, e neles diz-nos a nós, que a vida de qualquer pessoa pode ser repentinamente interrompida, quer por meio de uma acção violenta, quer por meio de um acidente natural, ou de qualquer outro tipo, como por exemplo, um acidente de viação, uma doença grave, etc. Por isso, devemos tirar lições de fé dos acontecimentos que nos rodeiam para estarmos sempre preparados para a hora actual e futura de Deus. Também nós podemos «morrer» se permanecermos na impenitência dos nossos pecados. Deus não quer que morramos no pecado, mas que vivamos na graça. Nesta Páscoa, Ele vem procurar os frutos da nossa figueira, pois espera encontrar as nossas boas obras da Quaresma. Se não as encontrar, na sua paciência, dá-nos novas oportunidades de graça e conversão. Aquele que as aproveita e se «converte» e «dá frutos», passa da morte do pecado à vida da graça, vive já da vida divina do Ressuscitado, sente a sua vida transfigurada pelo fogo do amor Senhor a arder no seu coração. O Fogo do Amor de Deus arde em nós e abrasa-nos sem nos consumir, como a chama ardente fazia arder a sarça sem a consumir. Deus, a fonte escondida no vivo pão para nos dar vida, prodiga-nos, na alavanca da oração, o pão da Palavra e a água do Espírito, para que, como os santos do Carmelo, abrasados com fogo de amor na Eucaristia, levantemos o mundo e sigamos o caminho da vida eterna.
Padre Manuel Reis, OCD

