Com a candeia da alma acesa
Naquele fogo secreto e sempre ardente,
Deixou-me o Amado encarcerado
Numa espera de amor ausente.
E no vazio dessa espera demorada,
Ecoa em mim a voz do abandono
Daquele que em mim encontrou morada
E partiu para onde os meus olhos não veem…
«Não percas pela demora!»,  dizem eles,
«Crês ainda que voltará aquele que te deixou?»
«Quem espera sempre alcança!», digo, com voz de fogo,
Mas sabendo, no silêncio, o que eles não entendem:
O que acendeu em mim aquela chama,
É o mesmo que em segredo a mantém.
E uma vez perdido, para sempre encontrado!
O vazio é o transbordar da Sua presença.
Embora o tempo demore a passar,
E o desejo da aurora em mim aumente,
Espero na noite a vinda do sol nascente,
A promessa que em mim deixou gravada!
E com a candeia da alma acesa
Naquele fogo secreto e sempre ardente,
Espero, velando, na noite da vida,
O ladrão de amor que me espera em vigia!
João Sottomayor
3 de dezembro de 2023


Pensei que estava a ler o S. João da Cruz ! Afinal, é o Frei João de Maria e José. O nome é o mesmo: João. E a alma? A alma anda por aí encarcerada à espera de ser roubada por Aquele que é Amor revelado de Deus Pai. Talvez seja caso para dizer o que dizia o João de Fontiveros: “Porquê, tendo chagado a este pobre coração, o não curaste? E, pois mo hás roubado, porque assim o deixaste e não guardas o roubo que roubaste?” (C 9).
Boa caminhada de Advento para a liberdade!