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História: Carmelitas no Porto

«Eu, El-Rey, faço saber aos que este meu alvará virem que, pela devoção que tenho ao hábito dos Carmelitas Descalços, hei por bem de lhes conceder licença para que neste Reino na Cidade do Porto, e nas Villas de Viana, e Thomar, possam fundar três Mosteiros da sua Ordem. Pelo que mando a todas as justiças, oficiais e pessoas a que o conhecimento deste pertencer, que lhes não impeçam de edificar, e fundar os ditos três Mosteiros, que o cumpram, e guardem, e façam inteiramente cumprir, e guardar, como nele se contém. Duarte Correia de Sousa, em Lisboa, 12 de Agosto de 1616».

A chegada

O Definitório Geral da Ordem, reunido em Lisboa a 14 de Janeiro de 1617, aprovou a fundação deste convento do Carmo.
Depois das devidas licenças, foram enviados ao Porto ao Padres Tomás de S. Cirilo, Definidor Geral, e Sebastião da Ressurreição, de Évora. Foram recebidos e hospedados em casa de D. Diogo Lopes de Sousa, Governador da cidade. Depois das diligências feitas conseguiram o beneplácito do Bispo do Porto, D. Frei Gonçalo de Morais, beneditino, a 22 de Janeiro de 1617. Não foi fácil alcançar a licença do bispo porque este foi bastante pressionado por outras congregações religiosas que, com o novo convento, viam diminuir os seus réditos.
Vencidas todas as dificuldades, o P. Fr. Paulo da Trindade, juntamente com mais dez religiosos, começaram a vida regular, numa casa alugada ao Abade de S. Vicente de Pinheiro, na Rua de S. Miguel, em 15 de Junho de 1617. Depois de instalados «numa má pousada» começaram a tratar do convento definitivo e escolheram umas propriedades, junto às antigas portas do Olival, que ficavam fora das muralhas da cidade.
Em 5 de Maio de 1619, D. Rodrigo da Cunha, bispo da diocese, lançou a primeira pedra do edifício, no meio de grande aplauso da população da cidade. A 3 de Junho de 1622 foi parcialmente ocupado pelos religiosos, sendo a Igreja inaugurada em 16 de Julho de 1628.
Este convento foi orientado para os religiosos professos, mas a 26 de Julho de 1787, no Capítulo Geral, celebrado nos Remédios de Lisboa, foi destinado para estudantes que, depois dos estudos, deviam ir para o Ultramar, isto é, Brasil e Angola.
Em 29 de Março de 1809, a cidade do Porto foi invadida pelas tropas francesas, comandadas por Soult. O convento foi ocupado pelas mesmas tropas que, de um modo arrogante e insolente, provocaram distúrbios e maltrataram os religiosos.
Depois de derrotado e humilhado o exército francês pelas tropas portuguesas e inglesas, o convento ficou num estado deplorável. Uma parte continuou ocupado pelo exército português e inglês até 19 de Agosto de 1814, e a outra parte pelos religiosos desde 13 de Junho de 1809. Apesar deste inconveniente para a comunidade, a convivência foi pacífica e respeitadora.

A partida

Em 1821 habitavam neste convento 24 sacerdotes, 1 corista e 9 irmãos leigos. Em 1832 eram 29 religiosos, 11 dos quais tinham abandonado a cidade antes de conquistada pelas tropas de D. Pedro IV. Em 26 de Maio de 1833, D. Miguel, rei absoluto, claudicou e foi instaurado em Portugal o regime liberal.
As mentalidades dos religiosos não estavam preparadas para viver num regime liberal e nunca se adaptaram a ele. Em cumprimento do decreto emanado da Regência do Reino, a 9 de Agosto de 1833, a Junta da Reforma Geral Eclesiástica passou a investigar se este convento tinha 12 religiosos. Na verdade eram 18, mas o investigador, com manifesta má fé, reduziu o número para 11 com o pretexto de que os outros 7 já não eram capazes de levar a vida regular. Deste modo, o convento foi abrangido pelos mandatos régios, que o extinguiram.
Dos 7 religiosos dados por incapazes, 4 recolheram ao Hospital de Nossa Senhora do Terço e Caridade, e 3 secularizaram-se. Os 11 restantes, por Portaria de 22 de Novembro de 1833, foram mandados para o convento dos Remédios de Lisboa, para onde embarcaram a 11 de Dezembro, no cais da Paixão, junto a Massarelos. Dois dias depois foram recebidos pelo P. Fr. Manuel do Nascimento, Prior desse convento.
A parte norte do edifício foi cedida à Venerável Ordem Terceira do Carmo, para ampliação do seu hospital, sendo o lado oeste destinado a usos castrenses a partir de 1834. Esta parte encontra-se actualmente ocupada pela Guarda Nacional Republicana.

O regresso

A restauração da Ordem dos Carmelitas Descalços, no Poro, deve os seus princípios ao entusiasmo do Dr. Sebastião Pereira dos Santos Vasconcelos, creditado cidadão portuense e grande benfeitor do Carmelo de Santa Teresinha de Viana do Castelo. Estava muito interessado na vinda dos Carmelitas para a capital do norte. Foi o que fez saber ao Bispo D. António de Castro Meireles, seu amigo, que lhe respondeu «que, com muito gosto, teria os religiosos Carmelitas no seu palácio», ainda que, por outro lado, não escondia uma certa preocupação por considerar que o caso viesse a ser mal interpretado pelo povo, pois podia ser acusado de proteger fugitivos da vizinha Espanha, onde se acabava de instaurar a República (14 de Abril de 1931).
Esta atitude cautelosa e compreensível do Prelado portuense não impedia que os nossos religiosos fossem chamados a desempenhar nesta cidade funções próprias do seu ministério. Vencidas não poucas dificuldades, entraram os Carmelitas na cidade do Porto a 6 de Agosto de 1936. Os Padres Fr. Joaquim de S. Teresa e Fr. Jaime de S. José entraram definitivamente na Foz do Douro, ficando hospedados em casa do benemérito Dr. Sebastião Vasconcelos. Também estiveram alojados durante 2 meses na residência do Dr. Armando Vieira de Castro. Daqui passaram a residir na Rua do Alto de Vila, nº 182 e, a partir de Janeiro de 1943, na Rua de Gondarém, nº 508, freguesia de Nevogilde. « Os Padres, pelo menos o P. Jaime, tomaram conta da capelania de ‘Nossa Senhora de Lourdes’; e creio que foi até isso que motivou em parte o terem alugado a casa da Rua de Gondarém».
Eram capelães das Irmãs Teresianas de Ossó e das Missionárias do Santíssimo Sacramento e de Maria Imaculada (Rua da Cerca). Atendiam igualmente os Irmãos da Venerável Ordem Terceira do Porto (Igreja do Carmo), que tanto interesse haviam mostrado pelo regresso da Ordem a esta cidade, na esperança de que pudessem fixar-se na antiga Igreja dos Carmelitas, anexa ao seu sodalício. Apesar de todas as diligências realizadas neste sentido, não a conseguiu reaver, para restaurar nela a vida carmelitana.
A 16 de Maio de 1950. D. Agostinho de Jesus e Sousa concedeu a licença da fundação. O Definitório Geral deu o seu conhecimento no dia 23 de Junho do mesmo ano.

As últimas andanças

Em 1971, na casa do nº 508 da Rua de Gondarém, fazendo esquina com a Rua do Crasto, começou-se a construir um novo edifício de 4 andares. Durante a construção, a comunidade habitava um apartamento na Rua Dr. Jacinto Nunes. A parte subterrânea foi destinada à capela. Foi nesta residência que se instalou o Governo da Ordem em Portugal.
A Foz, sempre apetecida, vai crescendo. A Capela torna-se pequena. A necessidade de criar uma Comunidade formativa para os estudantes teólogos é cada vez mais apertada por parte da Ordem. Pensa-se o futuro. A Ordem adquire, mais ou menos a 400 metros, um terreno entalado entre as Ruas de Gondarém e Marechal Saldanha. Entre uma rua e outra construímos.
À face da Rua de Gondarém, com entrada pelo nº 274, construímos o Sector da Comunidade. À face da Rua Marechal Saldanha, o Sector Pastoral e Cultural. No meio dos dois prédios, com entrada pelas duas ruas, situa-se a nova igreja, com capacidade para 600 pessoas sentadas.
No dia 3 de Setembro de 1986 fez-se a inauguração das novas instalações.
O Sector Pastoral dinamiza a Catequese, Grupo de Jovens, Retiros, Encontros de Formação e Grupo de Oração Teresiana (GOT).
As instalações do Sector Cultural estão ao serviço de várias actividades: Escola de Música, Universidade Douro Sénior, International House, Escola de Bailado e Escola de Magia.

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