Era tentado por Satanás e os Anjos serviam-n’O
O mesmo Espírito Santo que impeliu Jesus ao deserto, onde foi tentado por Satanás na sua condição de baptizado, isto é, de Filho de Deus, «semelhante a nós em tudo (até na tentação), excepto no pecado» – «o inimigo aproximou furtivamente do próprio Senhor para o tentar, como se pudesse surpreendê-lo e enganá-lo, mas foi descoberto e repelido; e foi derrotado porque foi reconhecido e desmascarado» – e onde, sentindo fome, foi servido pelos anjos «vivendo de toda a palavra que sai da boca de Deus» – conduz a Igreja ao «retiro espiritual» da Quaresma, aos quarenta dias de preparação espiritual para a Páscoa da morte e ressurreição do Senhor, na qual, também ela, é “tentada por Satanás» e «servida pelos Anjos».
A Igreja, que segue com fidelidade o caminho de Jesus até à Cruz, é tentada para não ser fiel à oração, ao jejum e à esmola, para não realizar a sua missão de anunciar a proximidade do Reino de Deus: «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». O tentador quer fazer-nos cair em tentação, como no caso de Santa Teresa de Jesus: «Estive mais de um ano sem ter oração, parecendo-me mais humildade. Esta foi a maior tentação que tive porque, por meio dela, eu acabar-me-ia de perder. No tempo em que vivi sem ela [a oração], andava muito mais perdida a minha vida. Veja-se que bom remédio me dava o demónio e que perigosa humildade! Era um grande desassossego».
A fidelidade à oração é a graça que, especialmente durante a Quaresma, devemos pedir ao Pai do Céu como remédio santo contra a tentação dos «inimigos traidores», que nos trazem grande desassossego» e nos enganam para trairmos «o compromisso com Deus de uma boa consciência»: «Os que temem, e é razão temerem e pedirem sempre ao Senhor os livre deles, são uns inimigos traidores, uns demónios que se transfiguram em anjos de luz; vêm disfarçados. Enquanto não fazem muito dano à alma, não se dão a conhecer; bebem-nos o sangue e acabam com as virtudes, e andamos metidos na tentação e não o entendemos. Destes, peçamos, filhas [e filhos], e supliquemos muitas vezes no Pai Nosso, nos livre o Senhor e não consinta que andemos em tentação; que não nos enganem, que se descubra a peçonha e não nos escondam a luz e a verdade. Oh! com quanta razão nos ensina o nosso bom Mestre a pedir isto, e Ele o pede por nós!». «Cristo foi tentado e morreu por nós. Vinde, adoremos!».
P. Manuel Reis