O primeiro milagre de Jesus
O casamento de Caná realizou-se três dias depois do chamamento dos primeiros discípulos. Dois discípulos de João Baptista seguiram Jesus no primeiro dia. Um deles, André, levou o seu irmão Simão a Jesus. No segundo dia, Jesus chamou Filipe, que convidou Natanael. No terceiro dia, são todos convidados para o casamento. Esta referência cronológica alude aos três dias de espera da manifestação da vitória do Ressuscitado. O evangelista avisa-nos que o casamento de Cana é para ser interpretado à luz do mistério pascal.
Estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. Formam o ícone da Igreja reunida na Eucaristia. No centro encontra-se Jesus e uma mulher, designada «a mãe de Jesus», chamada por Ele «Mulher». Na simbólica bíblica, a «mulher» representa o povo privado do vinho da sabedoria, o povo que espera a iniciativa divina para lhe dar a alegria. Ela intervém e chama a atenção para a falta do vinho. Não Lhe pede nada. Apela à responsabilidade d’Ele.
A certa altura faltou o vinho. Então, a Mãe de Jesus, disse-Lhe: “Não têm vinho”. A mulher está atenta às necessidades dos convidados. Manifesta a sua vontade de entrar na nova missão, que só lhe será revelada aos pés da Cruz. Na «hora» da Cruz será revelada a verdadeira identidade da «mulher», que já não representará o povo da primeira Aliança na espera do seu Messias, mas a nova humanidade, recriada pela efusão do Espírito, dom e fruto do sacrifício pascal. O Espírito «distribui os dons a cada um conforme Lhe agrada» para o «bem comum» da Igreja, que celebra neste ano os 1700 anos do concílio ecuménico de Niceia e, durante esta semana, reza pela unidade dos cristãos conforme a fé comum do Credo de Niceia-Constantinopla: «Creio na Igreja una…».
Jesus, oferecendo o vinho, torna-se o noivo, o esposo que dá o vinho novo. Um novo casamento – no qual Cristo é o Esposo e no qual a «mulher» é figura da Esposa, porque tem o cuidado de que não falte nada e tudo corra bem – substitui o casamento que estava a realizar-se. «Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres e manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele». É o primeiro sinal de Jesus. Ele é o Messias que revela a sua glória no milagre da transformação da água em vinho; o Mestre em quem Maria, a primeira discípula, e os discípulos acreditam e seguem; o Senhor, a quem os serventes obedecem; o novo Moisés, autor da nova e eterna Aliança no vinho do seu sangue; o Esposo que, na sua hora, se imolará pela sua Esposa. «E os discípulos acreditaram n’Ele». «A tua terra terá um esposo… o teu Construtor te desposará… a esposa é a alegria do marido». A Igreja é a Comunidade dos discípulos que tem fé em Cristo, cumpre os seus mandamentos e está atenta às necessidades dos irmãos. É a Esposa amada pelo Esposo, outrora na Cruz, agora na Eucaristia, que tem uma vocação de glória eterna: «Deus chamou-nos, por meio do Evangelho, a tomar parte na glória de Nosso Senhor Jesus Cristo» (2 Ts 2, 14).
Padre Manuel Reis, OCD